A História do Padel: Das Origens à Popularidade Global

O padel é um desporto que tem conquistado cada vez mais adeptos em todo o mundo, especialmente na Europa. Com uma história relativamente recente quando comparado com outros desportos de raquete, o padel apresenta uma evolução fascinante que merece ser conhecida por todos os entusiastas e praticantes iniciantes.

As Origens Marítimas e a Criação no México

Embora o padel como o conhecemos hoje tenha nascido oficialmente no México, as suas raízes podem ser traçadas até finais do século XIX. Por volta de 1890, passageiros de navios ingleses tentaram adaptar a prática do ténis ao espaço limitado disponível a bordo. Este "ténis de alto mar", como ficou inicialmente conhecido, era praticado numa quadra de dimensões reduzidas e protegida por telas para evitar que as bolas caíssem ao mar.

Esta adaptação marítima do ténis não era ainda o padel, mas representou um dos primeiros esforços para criar uma versão mais compacta e acessível do ténis tradicional. Os marinheiros ingleses, conhecidos por adaptarem diversos jogos às condições limitadas dos navios, foram pioneiros nesta abordagem que, anos mais tarde, influenciaria o desenvolvimento do padel.

No entanto, o verdadeiro nascimento do padel moderno aconteceu em 1969, quando Enrique Corcuera, um empresário mexicano apaixonado por desporto, decidiu construir um pequeno campo de ténis na sua propriedade em Acapulco. Devido às limitações de espaço, Corcuera cercou o campo com muros para impedir que a bola saísse dos limites de jogo, criando assim o primeiro campo de padel oficial. Foi também Corcuera quem definiu as dimensões da quadra e estabeleceu o regulamento básico que viria a reger o desporto mundialmente.

Corcuera não imaginava que a sua solução prática para jogar ténis num espaço limitado se transformaria num desporto completamente novo. A sua inovação foi combinar elementos do ténis e da pelota basca (um desporto tradicional espanhol jogado contra paredes), criando um jogo único que rapidamente cativou os seus amigos e convidados.

A Expansão para Espanha e Argentina

O padel poderia ter permanecido como uma curiosidade local se não fosse por Alfonso de Hohenlohe, um aristocrata espanhol e amigo de Corcuera. Após jogar padel durante uma visita a Acapulco em 1974, Hohenlohe ficou tão entusiasmado com o novo desporto que decidiu levá-lo para a Europa.

Regressado a Espanha, Hohenlohe dedicou-se a melhorar as regras do jogo e construiu as duas primeiras pistas de padel europeias no prestigiado Marbella Club Hotel. O desporto rapidamente conquistou celebridades e membros da alta sociedade espanhola, estabelecendo uma base sólida para o seu crescimento futuro no país.

A introdução do padel em Marbella, um destino turístico de luxo, foi estratégica para a sua disseminação. Figuras influentes da sociedade espanhola e internacional que frequentavam o resort adotaram o desporto e ajudaram a promovê-lo nos seus círculos sociais. Entre os primeiros entusiastas estavam membros da realeza espanhola, atores de Hollywood e empresários de renome, o que conferiu ao padel uma aura de exclusividade que impulsionou a sua popularidade inicial.

No ano seguinte, em 1975, o milionário argentino Júlio Menditengui também se apaixonou pelo padel e contribuiu significativamente para a sua popularização na Argentina. O seu impacto foi tão grande que a Argentina é hoje considerada uma das potências mundiais do padel, com milhões de praticantes e milhares de campos construídos.

Menditengui, que também era frequentador do Marbella Club, levou o conceito para Buenos Aires, onde o desporto encontrou terreno fértil. A Argentina, com a sua forte tradição em desportos de raquete e uma cultura desportiva vibrante, abraçou o padel com entusiasmo. Em poucos anos, campos de padel começaram a surgir em clubes, condomínios e espaços públicos por todo o país.

Esta dupla enraizada no mundo hispano-latino ajudou a formar a identidade do padel: um desporto técnico e tático, mas também festivo, baseado na troca e no espírito coletivo. Foi também nesta altura que surgiram as primeiras competições oficiais e que as regras foram padronizadas.

Os Primeiros Torneios e a Institucionalização

A década de 1980 foi crucial para a institucionalização do padel. Em 1982, foi realizado o primeiro Campeonato Mundial de Padel em Madrid, Espanha, um evento que ajudou a estabelecer padrões internacionais para o desporto. A Argentina dominou esta competição, confirmando o seu estatuto como potência emergente no padel.

Em 1987, foi fundada a Federação Internacional de Padel (FIP), com sede em Madrid, marcando um passo importante na organização global do desporto. A FIP estabeleceu regras oficiais, padronizou as dimensões dos campos e começou a organizar competições internacionais regulares, contribuindo para a profissionalização gradual do padel.

Os anos 90 viram a expansão do padel para outros países da América Latina, como Brasil, Chile, Uruguai e México, onde o desporto ganhou popularidade significativa. Esta década também testemunhou o surgimento dos primeiros jogadores profissionais e o estabelecimento de circuitos competitivos mais estruturados.

A Chegada a Portugal e o Desenvolvimento Europeu

Em Portugal, o padel chegou mais tarde, apenas no início dos anos 2000, vindo de Espanha. Nos primeiros anos, o desporto não conseguiu grande desenvolvimento no país. Um momento crucial para a sua popularização foi a organização do Campeonato da Europa de 2008 no Clube de Ténis do Estoril, onde Portugal alcançou a sua melhor classificação até então, conquistando o terceiro lugar.

A partir dessa data, verificou-se uma verdadeira explosão na construção de campos em clubes de ténis e resorts por todo o país. Começaram a surgir campos no Porto, Braga, Guimarães, Alentejo, Madeira e outras cidades, o que contribuiu para o aumento do número de praticantes em todo o território nacional.

Em 2012, estimava-se que existissem entre 3.000 e 5.000 praticantes ocasionais e regulares em Portugal, com mais de 80 campos espalhados pelo país, metade dos quais localizados em Lisboa. A constituição da Federação Portuguesa de Padel nesse mesmo ano foi um marco importante para o desenvolvimento da modalidade, que começou a ganhar cada vez mais expressão.

Um praticante de padel pode ser designado como padelista ou padeleiro, termos que se tornaram comuns no vocabulário desportivo português. Em 2017, Portugal qualificou-se para disputar o Campeonato Mundial de Padel, demonstrando a evolução do desporto no país. Mais recentemente, em junho de 2023, Afonso Fazendeiro e Miguel Oliveira conquistaram para Portugal a medalha de bronze nos Jogos Europeus, vencendo uma dupla italiana.

O crescimento do padel em Portugal tem sido notável, com um aumento exponencial no número de praticantes e instalações nos últimos anos. Segundo dados recentes, o país conta agora com mais de 300 campos e cerca de 100.000 praticantes regulares, números que continuam a crescer. Este boom foi impulsionado pela acessibilidade do desporto, pelo seu caráter social e pela crescente exposição mediática.

A Era Moderna: Profissionalização e Expansão Global

A partir dos anos 2000, o padel expandiu-se para outros países europeus como França, Itália, Suécia e Bélgica, onde o seu caráter acessível conquistou rapidamente todas as gerações. Os clubes multiplicaram-se, as federações organizaram-se e o padel ganhou visibilidade mediática.

A Suécia, em particular, tornou-se um caso de sucesso surpreendente. Apesar do seu clima frio, o país nórdico abraçou o padel com entusiasmo, construindo numerosos campos indoor e desenvolvendo uma comunidade vibrante de praticantes. Hoje, Estocolmo é considerada uma das capitais europeias do padel, com dezenas de clubes dedicados exclusivamente a este desporto.

O World Padel Tour (WPT), fundado em 2013, foi fundamental para a profissionalização do desporto. Este circuito profissional, com etapas em vários países, ofereceu aos jogadores a oportunidade de competir ao mais alto nível e aumentou significativamente a visibilidade do padel a nível global. As transmissões televisivas e online dos torneios do WPT contribuíram para popularizar o desporto e criar ídolos internacionais.

Em 2023, a fusão entre o World Padel Tour e o Premier Padel deu origem a um circuito profissional unificado apoiado pela Federação Internacional de Padel (FIP). Os maiores jogadores e patrocinadores internacionais contribuem para tornar o padel um desporto de alto nível, com ambições olímpicas declaradas.

Esta unificação representou um passo importante para o futuro do padel profissional, eliminando a divisão que existia no circuito e criando uma plataforma mais forte para o crescimento global do desporto. Com o apoio da Qatar Sports Investments (QSI) e da Professional Players Association (PPA), o novo circuito oferece melhores condições para os atletas e maior exposição mediática.

O Impacto da Pandemia e o Boom Pós-COVID

A pandemia de COVID-19, que afetou negativamente muitos desportos, acabou por beneficiar o padel de forma inesperada. Como é jogado ao ar livre ou em espaços bem ventilados, com distanciamento natural entre os jogadores, o padel foi um dos primeiros desportos a ser permitido após os confinamentos iniciais em muitos países.

Esta janela de oportunidade, combinada com o desejo das pessoas de socializar e praticar atividade física após longos períodos de isolamento, catalisou um boom sem precedentes. Países como Itália, França e Reino Unido viram um crescimento exponencial no número de campos e praticantes entre 2020 e 2022.

As redes sociais também desempenharam um papel crucial na popularização do padel durante este período. Vídeos de jogadas espetaculares, tutoriais e conteúdos relacionados com o padel proliferaram em plataformas como Instagram, TikTok e YouTube, atraindo uma nova geração de praticantes.

Características Distintivas do Padel

O que torna o padel tão especial e diferente de outros desportos de raquete é a interação com as paredes. O jogo é disputado sempre em duplas, num campo retangular de dez metros de largura por vinte metros de comprimento, dividido por uma rede com 90 centímetros de altura. As paredes nos fundos e parte das laterais funcionam como tabelas, permitindo que a bola continue em jogo após tocar nelas, o que acrescenta dinamismo e emoção à disputa.

A bola utilizada é semelhante à do ténis, embora varie na pressão interior. Os campos mais sofisticados utilizam vidro ou blindex no lugar das paredes, permitindo excelente visualização do jogo. O restante é cercado por telas ou redes de metal, sendo que o piso pode variar do cimento à relva artificial, de cor verde, azul ou terracota.

As raquetas têm 45,5 centímetros de comprimento, 26 de largura e 38 milímetros de espessura, perfuradas por buracos de nove a treze milímetros de diâmetro em toda a zona central. É obrigatória a utilização no punho da raquete de uma corda ou correia para prender ao pulso, como proteção contra acidentes.

O Apelo Universal do Padel

O padel tem conquistado adeptos em todo o mundo por várias razões. Em primeiro lugar, é um desporto de fácil aprendizagem, que não exige inicialmente um condicionamento físico excepcional. Além disso, o facto de ser jogado em duplas favorece a socialização e o convívio, tornando-o uma atividade desportiva e social ao mesmo tempo.

A dimensão reduzida do campo também contribui para o seu sucesso, pois permite que jogadores de diferentes idades e níveis de habilidade possam desfrutar do jogo sem grandes dificuldades. O padel é menos exigente fisicamente que o ténis, mas igualmente desafiador em termos técnicos e táticos.

Outro fator importante é a sua acessibilidade económica. O equipamento necessário é relativamente barato quando comparado com outros desportos, e os campos ocupam menos espaço, o que facilita a sua construção em áreas urbanas.

Figuras Emblemáticas do Padel Mundial

Ao longo da história do padel, várias figuras destacaram-se e contribuíram para a evolução e popularização do desporto. Entre os jogadores mais emblemáticos estão os argentinos Fernando Belasteguín e Juan Martín Díaz, que formaram uma das duplas mais dominantes da história do padel, mantendo-se no topo do ranking mundial por mais de 15 anos consecutivos.

Fernando Belasteguín, conhecido como "Bela", é considerado por muitos o maior jogador de padel de todos os tempos. Nascido na Argentina em 1979, Bela tornou-se profissional aos 15 anos e manteve-se como número 1 do mundo por um período incrível de 16 anos consecutivos (2002-2018), um recorde que dificilmente será batido. A sua longevidade, técnica apurada e mentalidade competitiva fizeram dele uma lenda viva do desporto.

Juan Martín Díaz, seu parceiro durante grande parte desta jornada, complementava perfeitamente o estilo de jogo de Bela. Juntos, conquistaram praticamente todos os títulos importantes do circuito profissional e elevaram o nível técnico e tático do padel a patamares sem precedentes.

No padel feminino, destacam-se nomes como Alejandra Salazar, Gemma Triay e Paula Josemaría, que têm dominado o circuito internacional nos últimos anos. Estas atletas não só elevaram o nível técnico do jogo, como também contribuíram para aumentar a visibilidade e o reconhecimento do padel feminino a nível mundial.

Gemma Triay, em particular, tem sido uma força dominante no circuito feminino, conquistando múltiplos títulos e estabelecendo novos padrões de excelência. A sua parceria com Alejandra Salazar produziu alguns dos jogos mais memoráveis da história recente do padel feminino.

O Futuro do Padel

O futuro do padel parece promissor, com um crescimento contínuo em termos de praticantes e infraestruturas. A profissionalização do desporto, com circuitos internacionais cada vez mais estruturados e prémios monetários mais elevados, tem atraído investidores e patrocinadores.

A ambição olímpica é um dos grandes objetivos da comunidade do padel. Embora ainda não seja um desporto olímpico, existem esforços significativos por parte da Federação Internacional de Padel para incluí-lo nos Jogos Olímpicos, o que representaria um reconhecimento definitivo da sua importância no panorama desportivo mundial. Os Jogos de Los Angeles 2028 ou Brisbane 2032 são vistos como possíveis oportunidades para a estreia olímpica do padel.

A inovação tecnológica também tem desempenhado um papel importante na evolução do padel, com o desenvolvimento de materiais mais leves e resistentes para as raquetes, sistemas de iluminação mais eficientes para os campos e plataformas digitais para a marcação de jogos e organização de torneios.

A análise de dados e a inteligência artificial estão a começar a ser aplicadas no padel profissional, permitindo aos jogadores e treinadores analisar padrões de jogo, identificar pontos fortes e fracos, e desenvolver estratégias mais eficazes. Estas tecnologias prometem revolucionar o treino e a competição nos próximos anos.

Conclusão

De uma adaptação improvisada do ténis em navios ingleses até se tornar um fenómeno global com milhões de praticantes, o padel percorreu um caminho notável em pouco mais de meio século. A sua capacidade de combinar elementos técnicos, táticos e sociais num formato acessível e divertido explica o seu sucesso crescente.

Em Portugal, o padel continua a ganhar adeptos e a desenvolver-se, tanto a nível amador como profissional. Com a construção de novos campos, a organização de torneios e o surgimento de jogadores talentosos, o futuro do padel português parece promissor.

À medida que o desporto continua a evoluir e a expandir-se globalmente, é provável que vejamos ainda mais inovações, tanto a nível técnico como organizacional. O padel já não é apenas uma moda passageira, mas sim um desporto estabelecido com uma comunidade apaixonada e em crescimento, pronto para enfrentar os desafios e oportunidades do futuro.

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